segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Re-estréia

E essa semana começou com as duas re-estréias previstas e agendadas para esse ano (já estou esperando por outras re-estréias não agendadas e, quem sabe, uma estréia).

A primeira é "Os Gigantes da Montanha"
Essa peça é mais um exercício da Paralela Noir. Dessa vez, quem nos dirigiu foi o Roberto Alvin e (não posso esquecer de dar os créditos) o Rodrigo Pavon.
Pra saber mais sobre esse exercício que fica todo sábado, às 21hs, em cartaz no Club Noir (de graça), pode dar uma olhada no Blog que o João fez pra peça!

Legal, né?

A segunda é na Culturaria.
Como eu já havia dito na semana passada, o primeiro texto do ano já foi publicado. É um texto bem leve sobre meus pensamentos sobre um certo blockbuster. Aí vai:

Interpretação Digital
Por Júlia Novaes



Entre férias escolares e recessos, grande parte dos paulistas não está trabalhando entre o natal e o ano novo. Em janeiro, a cidade começa a andar, devagar, mas já em ritmo de horário comercial. Voltando também das minhas férias, fui dar uma olhada no Guia da Folha. A edição da primeira semana de janeiro é finíssima. Mesmo com as propagandas e um caderno especial de verão, 60 páginas.

Para o teatro, uma só. A página 34. Cinema, é claro, ocupa grande parte do caderno (20 páginas), junto com restaurantes, guloseimas e bares (sim, são 3 categorias diferentes que, ao todo, levam 11 páginas do caderno).

Bem, meu primeiro pensamento foi que isso tinha uma resposta óbvia. Afinal, o teatro é a única arte que precisa que as pessoas estejam lá, ao vivo, atuando, para acontecer. Quer dizer, posso ir ver uma exposição ou ouvir uma música sem estar fisicamente no mesmo local que o artista que produziu aquela obra, a não ser que estejamos falando de uma performance ou de um show, claro. No caso do cinema, em comparação ao teatro, é ainda mais evidente: a maioria dos atores hollywoodianos que eu vejo na telona eu nunca vi ao vivo.

Acabei me rendendo e resolvi, nessa primeira coluna do ano, falar um pouco de cinema também. É que, nestas férias, fui ver “Avatar”. Acho que todo mundo já ouviu falar desse filme de ficção, que tem uma história muito parecida com a de Pocahontas. O exército vai até um outro planeta (ou, mais especificamente, até a lua de outro planeta) para que uma empresa explore um minério que só há lá. Nessa equipe do exército, há uma equipe de cientistas que estuda a cultura dos Na’vi, os nativos de Pandora. Por um acaso, um cientista morre. Seu irmão gêmeo assume seu lugar, por ser geneticamente compatível com seu Avatar. A questão é: ele é um fuzileiro e passa a dar informações preciosas sobre os Na’vi para o exército. Claro, ele se envolve com a cultura natureba (no bom sentindo) dos Na’vi e também com Neytiri, a filha do chefe. Ele acaba se tornando um deles e escolhendo lutar do lado deles, quando os humanos partem para a ofensiva bélica.

Se vocês ainda não viram o filme, não se preocupem; o roteiro é o menos importante. O interessante mesmo são os efeitos especiais. Quando vemos o mundo de Pandora, entramos no mundo mágico do cinema computadorizado. Mas esse filme não foi feito como as animações da Pixar ou da Disney. Na verdade, o diretor nem mesmo o considera uma animação. É que o filme foi feito, primeiro, normalmente. Quer dizer, como manda o figurino: os atores atuavam e a câmera os registrava. Com a diferença de que eles estavam com uma roupa cheia de pontos (havia pontos também no rosto deles) para que isso fosse capturado com detalhes pelo computador. Os cinéfilos devem se lembrar dessa nova tecnologia que está sendo desenvolvida desde Gollun (personagem do Senhor dos Anéis).

Por mais que você não goste de filme de ficção científica ou de guerra (sim, há uma longuíssima batalha no filme), há algo que faz com que você se prenda a ele. Os personagens mágicos, lúdicos e “do bem”; as cores, o brilho e as conexões do ambiente... Claro, fui ver o filme em 3D. É engraçado porque eu me lembro de ter ido, quando pequena, ver algumas das sessões 3D, com aqueles óculos metade vermelhos, metade azuis; e me lembro também de que não havia história. A graça era simplesmente ver as borboletas ou o jacaré sairem da tela. Ver um filme colorido e cheio de criaturas mágicas em 3D me deu uma certa nostalgia.

E também gerou uma certa polêmica entre os que estavam comigo. Por que não se considera um filme desses uma animação?! Pensamos em vários argumentos. Na tecnologia que capta direto todos os movimentos e expressões dos atores. Mas, sendo isso uma reprodução, qual seria a diferença entre isso e desenhar tudo depois, também reproduzindo a interpretação com fidelidade? Afinal, quem não se lembra das homenagens feitas às vozes dos atores em animações? Só pra dar um exemplo, a Lola de “O espanta Tubarões”, que não dá pra não reconhecer, é Angelina Jolie. Ou de Fred, de “A Scanner Darkly”, personagem que foi feito com um recurso de rostocopia, usado exatamente para que os personagens animados sejam idênticos aos atores, pois ele é feito por cima das filmagens reais.

Os efeitos especiais, cada vez mais evidentes, seja como linguagem (como em “Capitão Sky e o Mundo de Amanhã”, só pra lembrar de um), seja como uma ferramenta para criar um mundo mágico (como toda a saga de Harry Potter, por exemplo) estão invadindo as telas, agora também como protagonistas.

Mas acho que “Avatar”, assim como “A Scanner Darkly”, tem uma outra questão: como os atores não apenas emprestam sua voz, mas também seu corpo, atuando na frente das câmeras, será que ainda é possível avaliar a atuação deles? Ou será que todos esses muros — a tela, a câmera, o filme, e, ainda por cima, toda essa animação computadorizada colocada em cima dos atores para guiar nossa visão — acaba escondendo-os e distanciando-os ainda mais de nós? Será que ainda existe diferença entre os filmes e as animações, ou será que essas linhas já estão sendo cada vez menos demarcadas?

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

2010

Bom, o ano começou e eu já estou atrasada!
É que amanhã sairá minha terceira coluna no site Culturaria e eu nem publiquei a segunda (de dezembro de 2009).
Mas tudo bem. Vamos começar o ano recapitulando!

Para imaginar uma história, apague as luzes.
Por Júlia Novaes


O Club Noir, com um nome desses e uma peça com esse título, não deixa dúvidas que trabalha diretamente e sempre com a escuridão (e, por conseqüência, com a luz).

Para quem foi despreparado ao Sesc Pompéia, não adiantou ler as sinopses de divulgação para tentar entender a peça. Isso porque o texto de Gregory Motton já é um texto difícil e completamente entrecortado, sem linearidade de tempo. E a montagem do diretor da companhia de teatro Club Noir, Roberto Alvim, picotou ainda mais o texto deixando pouco da história do marinheiro irlandês Tom Doheny e muito da reflexão lírica do dramaturgo.

É preciso entrar no teatro com outros olhos. Ao sentar-se no galpão do Sesc a vista começa, aos poucos a se acostumar com a escuridão e logo, tudo o que a delicada luz pontua no palco salta aos olhos. O texto e a voz, principal ponto do estudo do Club Noir é trabalhado na peça de uma forma muito específica: os três atores, ao invés de dividirem entre si os personagens, transitam entre eles: às vezes, sozinho no palco, o mesmo ator faz um diálogo todo.

É como se não houvesse diferença entre diálogo e monólogo. E, como em cena, quase não há movimentação, as vozes dos atores são trabalhadas como música e, elas sim, se movimentam: do grave para o agudo, do lento para o rápido, do sólido para o airado. E é nessa brincadeira que está a beleza da peça.

Sem necessidade de entender a história racionalmente, é preciso sentir, experiênciar, ouvir. Isto porque toda a dificuldade das elipses de tempo, dos recortes da história e da multiplicidade dos personagens é facilitada pela visualidade. O cenário tem apenas dois bancos e alguns símbolos: a árvore, a maçã, a cobra e o porco. São símbolos simples, até clichês, presentes do imaginário de todos, mas utilizados de forma muito plástica que acrescenta um véu de familiaridade a aridez da peça.



E a falta de movimentação dos atores, os símbolos, a luz pontuada e a musicalidade da voz dão espaço para a imaginação. A poesia do texto deixa o espectador (que deve ir ao teatro com a mente aberta) entender a batalha entre Tom, Deus e o Demônio de diferentes formas. E deixar espaço aberto para outro tipo de entendimento do público, que não é o entendimento racional, e para a imaginação é uma raridade numa arte visual como é o teatro hoje. Estamos acostumados a ver peças (filmes, exposições etc) em que não precisamos sentir nem imaginar, pois tudo nos é dado de forma quase didática: quem é o protagonista, para onde vai, o que quer, quem está dificultando a vida dele e assim por diante.

Ao contrário do que se pensa, acredito que uma montagem aberta e experimental neste sentido, de trazer ao espectador uma experiência diferente não é subestimar a inteligência do público, como muitos pensam ou se sentem ao sair da peça sem entendê-la racionalmente. Para mim, um desafio desse tipo na verdade leva em conta a inteligência do público, propondo que o sentido do que foi experimentado ao assistir a peça possa ser criado pelo próprio espectador.

A temporada foi curta (acabou neste domingo, dia 13 de dezembro) e eu ouvi pouco sobre o que as pessoas acharam da peça. É uma pena, porque uma peça difícil dessa, na minha opinião, deveria ter sido mais discutida. Se alguém a viu, gostaria de saber se o embate entre Deus e o Demônio estabelecido no palco foi também o embate entre os seus Deuses e os seus Demônios internos.

Pra quem quiser seguir o site-blog: Culturaria

Também recomendo dar uma olhada nos outros colunistas que eu também tenho seguido e lido - mesmo que pessoalmente, só tenha conhecido uma, a ; na nossa cervejada de fim do ano.