E essa semana começou com as duas re-estréias previstas e agendadas para esse ano (já estou esperando por outras re-estréias não agendadas e, quem sabe, uma estréia).
A primeira é "Os Gigantes da Montanha"
Essa peça é mais um exercício da Paralela Noir. Dessa vez, quem nos dirigiu foi o Roberto Alvin e (não posso esquecer de dar os créditos) o Rodrigo Pavon.
Pra saber mais sobre esse exercício que fica todo sábado, às 21hs, em cartaz no Club Noir (de graça), pode dar uma olhada no Blog que o João fez pra peça!
Legal, né?
A segunda é na Culturaria.
Como eu já havia dito na semana passada, o primeiro texto do ano já foi publicado. É um texto bem leve sobre meus pensamentos sobre um certo blockbuster. Aí vai:
Interpretação Digital
Por Júlia Novaes
Entre férias escolares e recessos, grande parte dos paulistas não está trabalhando entre o natal e o ano novo. Em janeiro, a cidade começa a andar, devagar, mas já em ritmo de horário comercial. Voltando também das minhas férias, fui dar uma olhada no Guia da Folha. A edição da primeira semana de janeiro é finíssima. Mesmo com as propagandas e um caderno especial de verão, 60 páginas.
Para o teatro, uma só. A página 34. Cinema, é claro, ocupa grande parte do caderno (20 páginas), junto com restaurantes, guloseimas e bares (sim, são 3 categorias diferentes que, ao todo, levam 11 páginas do caderno).
Bem, meu primeiro pensamento foi que isso tinha uma resposta óbvia. Afinal, o teatro é a única arte que precisa que as pessoas estejam lá, ao vivo, atuando, para acontecer. Quer dizer, posso ir ver uma exposição ou ouvir uma música sem estar fisicamente no mesmo local que o artista que produziu aquela obra, a não ser que estejamos falando de uma performance ou de um show, claro. No caso do cinema, em comparação ao teatro, é ainda mais evidente: a maioria dos atores hollywoodianos que eu vejo na telona eu nunca vi ao vivo.
Acabei me rendendo e resolvi, nessa primeira coluna do ano, falar um pouco de cinema também. É que, nestas férias, fui ver “Avatar”. Acho que todo mundo já ouviu falar desse filme de ficção, que tem uma história muito parecida com a de Pocahontas. O exército vai até um outro planeta (ou, mais especificamente, até a lua de outro planeta) para que uma empresa explore um minério que só há lá. Nessa equipe do exército, há uma equipe de cientistas que estuda a cultura dos Na’vi, os nativos de Pandora. Por um acaso, um cientista morre. Seu irmão gêmeo assume seu lugar, por ser geneticamente compatível com seu Avatar. A questão é: ele é um fuzileiro e passa a dar informações preciosas sobre os Na’vi para o exército. Claro, ele se envolve com a cultura natureba (no bom sentindo) dos Na’vi e também com Neytiri, a filha do chefe. Ele acaba se tornando um deles e escolhendo lutar do lado deles, quando os humanos partem para a ofensiva bélica.
Se vocês ainda não viram o filme, não se preocupem; o roteiro é o menos importante. O interessante mesmo são os efeitos especiais. Quando vemos o mundo de Pandora, entramos no mundo mágico do cinema computadorizado. Mas esse filme não foi feito como as animações da Pixar ou da Disney. Na verdade, o diretor nem mesmo o considera uma animação. É que o filme foi feito, primeiro, normalmente. Quer dizer, como manda o figurino: os atores atuavam e a câmera os registrava. Com a diferença de que eles estavam com uma roupa cheia de pontos (havia pontos também no rosto deles) para que isso fosse capturado com detalhes pelo computador. Os cinéfilos devem se lembrar dessa nova tecnologia que está sendo desenvolvida desde Gollun (personagem do Senhor dos Anéis).
Por mais que você não goste de filme de ficção científica ou de guerra (sim, há uma longuíssima batalha no filme), há algo que faz com que você se prenda a ele. Os personagens mágicos, lúdicos e “do bem”; as cores, o brilho e as conexões do ambiente... Claro, fui ver o filme em 3D. É engraçado porque eu me lembro de ter ido, quando pequena, ver algumas das sessões 3D, com aqueles óculos metade vermelhos, metade azuis; e me lembro também de que não havia história. A graça era simplesmente ver as borboletas ou o jacaré sairem da tela. Ver um filme colorido e cheio de criaturas mágicas em 3D me deu uma certa nostalgia.
E também gerou uma certa polêmica entre os que estavam comigo. Por que não se considera um filme desses uma animação?! Pensamos em vários argumentos. Na tecnologia que capta direto todos os movimentos e expressões dos atores. Mas, sendo isso uma reprodução, qual seria a diferença entre isso e desenhar tudo depois, também reproduzindo a interpretação com fidelidade? Afinal, quem não se lembra das homenagens feitas às vozes dos atores em animações? Só pra dar um exemplo, a Lola de “O espanta Tubarões”, que não dá pra não reconhecer, é Angelina Jolie. Ou de Fred, de “A Scanner Darkly”, personagem que foi feito com um recurso de rostocopia, usado exatamente para que os personagens animados sejam idênticos aos atores, pois ele é feito por cima das filmagens reais.
Os efeitos especiais, cada vez mais evidentes, seja como linguagem (como em “Capitão Sky e o Mundo de Amanhã”, só pra lembrar de um), seja como uma ferramenta para criar um mundo mágico (como toda a saga de Harry Potter, por exemplo) estão invadindo as telas, agora também como protagonistas.
Mas acho que “Avatar”, assim como “A Scanner Darkly”, tem uma outra questão: como os atores não apenas emprestam sua voz, mas também seu corpo, atuando na frente das câmeras, será que ainda é possível avaliar a atuação deles? Ou será que todos esses muros — a tela, a câmera, o filme, e, ainda por cima, toda essa animação computadorizada colocada em cima dos atores para guiar nossa visão — acaba escondendo-os e distanciando-os ainda mais de nós? Será que ainda existe diferença entre os filmes e as animações, ou será que essas linhas já estão sendo cada vez menos demarcadas?
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